quinta-feira, agosto 31, 2006

Thomas Bernhard

NUM TAPETE DE ÁGUA

Num tapete de água
vou bordando os meus dias,
os meus deuses e as minhas doenças.

Num tapete de verdura
vou bordando os meus sofrimentos vermelhos,
as minhas manhãs azuis,
as minhas aldeias amarelas e os meus pães de mel amarelos também.

Num tapete de terra
vou bordando a minha efemeridade.
Nele vou bordando a minha noite
e a minha fome,
a minha tristeza
e o navio de guerra dos meus desesperos,
que vai deslizando p'ra mil outras águas,
para as águas do desassossego,
para as águas da imortalidade.


Thomas Bernhard (1931-1989)
Na Terra e no Inferno
(tradução de José A. Palma Caetano)
Poemário 2003
Assírio & Alvim

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