A VELHA CHAMA
Minha velha chama, minha mulher!
Lembras-te dos nossos catálogos de pássaros?
Uma manhã, no Verão passado, passei de carro
junto à nossa casa no Maine. Lá continuava
no alto do monte -
Uma espiga vermelha de milho-índio
estava agora presa à porta.
Velha Glória com treze listas
suspensa numa estaca. A ripa
era de um vermelho velho, o vermelho do edifício da escola.
No interior, um novo proprietário,
uma nova mulher, uma nova vassoura!
Loja de antiguidades no litoral atlântico
peltre e espólio
brilharam nas salas.
Uma nova fronteira!
Acabaram-se as corridas a casa do vizinho
para telefonar ao sherife
para chamar o táxi para Bath
e para a loja de bebidas!
Ninguém viu o teu espectral
e imaginário amante
olhando imóvel à janela
e ajustando
o cachecol ao pescoço.
Saudemos as novas gentes,
saudemos a sua bandeira, na sua velha
e restaurada casa no monte!
Tudo foi limpo,
mobilado, adornado e arejado.
Tudo foi mudado para melhor -
quão trémulos e corajosos éramos,
cercados ali os dois pela neve,
agitados como vespas
na nossa tenda de livros!
Pobre fantasma, velho amor, fala
com a tua voz velha,
de perspicácia ardente
que nos mantinha despertos toda a noite.
Na mesma cama e apartados,
ouvimos o limpa-neve,
gemendo monte acima-
uma luz vermelha, outra azul,
enquanto afastava a neve
para a berma da estrada.
Robert Lowell
Aos Mortos da União
e outros poemas
edição bilingue
selecção, tradução e introdução
Mário Avelar
Assírio & Alvim
1993
Sem comentários:
Enviar um comentário