domingo, agosto 13, 2006

João Pedro Mésseder

No chão da noite

1
À noite, quando o sul e o norte se confundem, em cada cidadea
dormecida, uma sombra agoniza no escuro.

2
Nas madrugadas de chuva, o lamento da noite não comove-
porque é mais densa e bravia a memória do sangue, vertido a
coberto do sono e das pálpebras do mundo.
Nas madrugadas de chuva, cala-se a voz do rio, as miragens
fenecem, e o calor do linho não chega para aplacar o frio e apagar
a imagem dos que no escuro se perderam.

3
Como um navio em águas sombrias os olhos cruzam a noite e uma
janela de luz os retém. Sentado, um homem luta ainda com as
palavras; A noite vai cumprindo o que a mão resiste a escrever:
'rotinas de sangue suor e pranto'.
E ante o comum lugar da fórmula, a última lâmpada apaga-se e
tinge de silêncio o verso que a luz não quis reler.


João Pedro Mésseder
A POESIA É TUDO
Antologia I

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