quinta-feira, janeiro 24, 2008

Instituto Franco-Português

CONVITE

Por ocasião do lançamento da edição excepcional de
Voyage de Magellan. La relation de Pigafetta & autres témoignages
(1519-1522)


Obra publicada pelas Éditions Chandeigne com o concurso da Fundação Calouste
Gulbenkian e o Centre national des Lettres sob a direcção de Xavier de
Castro (Michel Chandeigne), em colaboração com Carmen Bernand, Jocelyne
Hamon e Luís Filipe Thomaz. 2 vol. 1088 p. 120 mapas e ilustrações,
bibliografia completa e índice triplo.

O Instituto Franco-Português tem o prazer de vos convidar
terça-feira 29 de Janeiro de 2008 às 19h00

para uma conferência-debate, acompanhada de projecção de documentos e
animada por Michel Chandeigne, Luís Filipe Thomaz, Jocelyne Hamon e José
Manuel Garcia

Instituto Franco-Português - Avenida Luis Bivar, 91 - 1150-143 Lisboa - tel
21 311 14 00 - www.ifp-lisboa.com

Voyage de Magellan é uma obra que reúne, pela primeira vez no mundo, o
conjunto das fontes narrativas e cartográficas directas, sobre esta primeira
volta ao mundo que foi a mais fascinante das viagens marítimas. Um aparelho
crítico muito completo faz dela, para além disso, uma referência sobre o
assunto. Rectificando uma série de erros e ideias falsas que,
invariavelmente, circulavam sobre o navegador e a sua viagem, ela agrega,
sintetiza e pondera as diversas interpretações de grandes enigmas desta
expedição (origens de Magalhães, natureza do projecto, causas do motim,
morte do navegador, número de mortos e sobreviventes). Além disso, sobre
vários e numerosos pontos (composição da tripulação, deserção do San
Antonio, travessia do Pacífico, escala em Palawan, identificação de
topónimos, de plantas e de animais), ela acrescenta elementos, inéditos até
então, que oferecem por vezes uma nova leitura dos acontecimentos. Este
livro aparece na mesma altura que A viagem de Fernão de Magalhães e os
Portugueses (Presença, 2007) de José Manuel Garcia) que, por seu turno,
reúne as fontes portuguesas directas e indirectas

Margarida Antunes da Silva

Attachée de Presse/Relations Publiques

Instituto Franco-Português

Av. Luís Bívar, 91

1050-143 Lisboa

Tel: 21 311 14 27 Fax: 21 311 14 63

margarida.silva@ifp-lisboa.com

sábado, janeiro 19, 2008

Fernanda Pissarro e Rita Gamboa

Fernanda Pissarro e Rita Gamboa na Galeria Diferença (ver anúncio neste blogue)
Fernanda Pissarro
Fernanda Pissarro
Fernanda Pissarro
Rita Gamboa
Rita Gamboa
Rita Gamboa
Aspecto da exposição
Aspecto da exposição
Aspecto da exposição
Aspecto da exposicão

domingo, janeiro 13, 2008

Arte da luz

John Armleder


John Armleder - Néon pixel

L'art lumineux (2/3)

Une série en trois volets sur la manière dont les plasticiens contemporains jouent de la lumière.
Aujourd'hui : le Suisse John Armleder.

Issu du mouvement Fluxus, John Armleder pratique depuis trente ans l'hybridation
entre peinture, sculpture et design. Les effets de lumière sont une composante
importante de son oeuvre, que le spectateur découvre ici à travers plusieurs
expositions. À la biennale de Shanghai, l'artiste présente son installation
Flash. Flash. Flash. conçue à partir d'objets bon marché fabriqués en Asie.
Les images de la gigantesque exposition "Amor Vacui, Horror Vacui",
organisée il y a quelques mois au musée d'Art moderne et contemporain
de Genève, offrent un panorama plus large de son univers aux éléments
éclatés, marqué par une profonde ironie.

Rediffusions : le 15 janvier 2008 à 04h20

Pissarro e Rita Gamboa


Pissarro e Rita Gamboa
Galeria Diferença
R. S. Filipe Neri, 42, cave 19.Jan. a 01 Mar. 2008
Horário: terça a sábado 15h00 às 20h00

sábado, janeiro 12, 2008

ÁNGEL GONZÁLEZ


ENTONCES

Entonces,
en los atardeceres de verano,
el viento
traía desde el campo hasta mi calle
un inestable olor a establo

y a hierba susurrante como un río

que entraba con su canto y con su aroma
en las riberas pálidas del sueño.

Ecos remotos,
sones desprendidos
de aquel rumor,
hilos de una esperanza
poco a poco deshecha,
se apagan dulcemente en la distancia:

ya ayer va susurrante como un río

llevando lo soñado aguas abajo,
hacia la blanca orilla del olvido.


ME BASTA ASÍ

Si yo fuera Dios
y tuviese el secreto,
haría
un ser exacto a ti;
lo probaría
(a la manera de los panaderos
cuando prueban el pan, es decir:
con la boca),
y si ese sabor fuese
igual al tuyo, o sea
tu mismo olor, y tu manera
de sonreír,
y de guardar silencio,
y de estrechar mi mano estrictamente,
y de besarnos sin hacernos daño
-de esto sí estoy seguro: pongo
tanta atención cuando te beso;
entonces,
si yo fuese Dios,
podría repetirte y repetirte,
siempre la misma y siempre diferente,
sin cansarme jamás del juego idéntico,
sin desdeñar tampoco la que fuiste
por la que ibas a ser dentro de nada;
ya no sé si me explico, pero quiero
aclarar que si yo fuese
Dios, haría
lo posible por ser Ángel González
para quererte tal como te quiero,
para aguardar con calma
a que te crees tú misma cada día,
a que sorprendas todas las mañanas
la luz recién nacida con tu propia
luz, y corras
la cortina impalpable que separa
el sueño de la vida,
resucitándome con tu palabra,
Lázaro alegre,
yo,
mojado todavía
de sombras y pereza,
sorprendido y absorto
en la contemplación de todo aquello
que, en unión de mí mismo,
recuperas y salvas, mueves, dejas
abandonado cuando -luego- callas...
(Escucho tu silencio.
Oigo
constelaciones: existes.
Creo en ti.
Eres.
Me basta.



Si tuviésemos la fuerza suficiente
para apretar como es debido un trozo de madera,
sólo nos quedaría entre las manos
un poco de tierra.
Y si tuviésemos más fuerza todavía
para presionar con toda la dureza
esa tierra, sólo nos quedaría
entre las manos un poco de agua.
Y si fuese posible aún
oprimir el agua,
ya no nos quedaría entre las manos
nada

ÁNGEL GONZÁLEZ

Em sua memória

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Pedro Tamen


Pedro Tamen vence primeiro Prémio Literário Inês de Castro

A primeira edição do Prémio Literário Inês de Castro foi atribuída a Pedro Tamen pela obra «Analogia e Dedos», revelou hoje à agência Lusa Aníbal Pinto de Castro, presidente da fundação que instituiu o galardão.

O prémio, criado pela Fundação Inês e Castro (FIC), foi atribuído este ano pela primeira vez, sendo entregue a Pedro Tamen no sábado, numa cerimónia presidida pela ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima.

O júri que escolheu Pedro Tamen integrava, além de Aníbal Pinto de Castro, José Carlos Seabra Pereira, Mário Cláudio, Fernando Guimarães e Frederico Lourenço.

Segundo o presidente da FIC, catedrático jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, a Fundação Inês de Castro atribuiu também o Tributo de Consagração a Urbano Tavares Rodrigues, pelo conjunto da sua obra.

No final do ano passado, Pedro Tamen arrebatou, com a mesma obra, o Prémio de Poesia Luís Miguel Nava, relativo a livros publicados em 2006.

O poeta e tradutor nasceu em Lisboa em 1934. Entre as suas obras contam-se «O Sangue, a Água e o Vinho», «Escrito de Memória» e «Dentro de Momentos».

Com o valor de 5000 euros, o Prémio Literário Inês de Castro pretende distinguir uma obra sobre a temática do mito inesiano, «podendo abranger temas tão abrangentes como a paixão, a vingança, a tragédia, a razão de Estado ou outros aspectos da representação histórico-cultural portuguesa».

A Fundação Inês de Castro celebra sábado o seu terceiro aniversário com diversos eventos ligados aos temas inesianos, com a participação de várias figuras das artes e da política portuguesa.

Além da entrega dos prémios, está prevista uma visita ao jardim medieval e à mata da Quinta das Lágrimas.

Serão também anunciadas as novas iniciativas promovidas pela FIC no sentido de favorecer a investigação e divulgação da história, da cultura e da arte relacionadas com temas inesianos.

Criar um «site» na Internet com informação de carácter bibliográfico e cultural sobre o tema de Inês de Castro e dotar de um espaço próprio o museu instalado numa das galerias do hotel são algumas das actividades previstas.

Segundo Aníbal Pinto de Castro, além de um concurso de fotografia sobre Inês de Castro e Coimbra e de iniciativas culturais no jardim medieval e na mata, está igualmente previsto um projecto de ateliers para crianças e adolescentes, destinado a fomentar o gosto pelas artes entre os mais novos.

A FIC foi fundada em Janeiro de 2005 por ocasião das comemorações dos 650 anos da morte de Inês de Castro.

Diário Digital / Lusa

10-01-2008 13:48:00

quarta-feira, janeiro 09, 2008

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Letra E: Edgar Allan Poe

ANNABEL LEE

It was many and many a year ago,
In a Kingdom by the sea,
That a maiden there lived whom you may know
By the name of Annabel Lee;-
And this maiden she lived with no other thought
Than to lave and be loved by me.

She was a child and I was a child,
In this kingdom by the sea,
But we loved with a love that was more than love-
I and my Annabel Lee-
With a love that the winged seraphs of Heaven
Coveted her and me.

And this was the reason that, long ago,
In this kingdom by the sea,
A wind blew out of a cloud by night
Chilling my Annabel Lee;
So that her highborn kinsmen came
And bore her away from me,
To shut her up in a sepulchre
In this kingdom by the sea.

The angels, not half so happy in Heaven,
Went envying her and me;-
Yes! that was the reason (as all men know
In this kingdom by the sea)
That the wind came out of a cloud, chilling
And killing my Annabel Lee,
But our love it was stonger by far than the love
Of those who were older than we-
Of many far wiser than we-
And neither the angels in Heaven above
Nor the demons down under the sea
Can ever dissever my soul from the soul
Of the beautiful Annabel Lee:-

For the moon never beams without bringing me
[dreams
Of the beautiful Annabel Lee;
And the stars never rise but I see the bright eyes
Of the beautiful Annabel Lee;
And so, all the night-tide, I lie down by the side
Of my darling, my darling, my lite and my bride,
In her sepulcre there by the sea-
In her tomb by the side of the sea.

Edgar Allan Poe
O corvo e outros poemas
Tradução de Fernando Pessoa
4ª edição
ulmeiro


I

No mais verdejante dos nossos vales,
Pelos anjos bons habitado.
Outrora um belo e majestoso palácio,
Um palácio resplandecente - erguia a sua frontaria,
Ficava nos domínios do monarca Pensamento,
Era aí que se erguia:
Jamais Serafim desdobrou a sua asa
Sobre um edifício só metade tão belo.

II

Pendões louros, soberbos, dourados,
No seu zimbório flutuavam e ondulavam;
(Passava-se - tudo isto, passava-se no antigo
No tempo muito antigo.)
E, a cada brisa suave que aparecia
Naqueles dias calmos
Ao longo das muralhas felpudas e pálidas,
Evolava-se um perfume alado,

III

Os viajantes, naquele vale feliz,
Através de duas janelas luminosas, viam
Espíritos que se moviam harmoniosamente
Sob o comando dum alaúde bem afinado,
Em redor dum trono onde, tomando assento
- Um verdadeiro Porfirogeneta, aquele! -
Num aparato digno da sua glória,
Aparecia o senhor do reino.

IV

E toda rebrilhante de nácar e de rubis
Era a porta do belo palácio,
Pela qual corria em torrente, em torrente,
E espumava incessantemente
Uma multidão de Ecos cuja agradável função
Era simplesmente cantar,
Com acentos duma beleza delicada,
O espírito e a prudência do seu rei,

V

Mas seres de desgraça, em vestes de luto,
Acometeram a alta autoridade do monarca.
- Ah! choremos! porque jamais a alva dum dia seguinte
Brilhará sobre ele, o desolado!-
E, em todo o redor da morada, a glória
Que se purpureava e florescia
Já não passa duma história, recordação tenebrosa
Das velhas eras defuntas.

VI

E agora os viajantes naquele vale,
Através das janelas avermelhadas vêem
Formas imensas que se movem fantasticamente
Aos sons duma música discordante;
Ao passo que, como um ribeiro rápido e lúgubre,
Através da porta pálida,
Uma multidão hedionda se arrasta eternamente,
Rebentando de riso - já não podendo sorrir,

Edgar Allan Poe
A queda da casa de Ulster
A queda da casa de Ulster e outras histórias
Tradução de João Costa
Livros Unibolso



Tu eras tudo isso para mim, meu amor,
Tudo por quanto a minha alma enlanguescia,
Uma ilha verde no mar, meu amor,

Uma fonte e um altar
Todos engrinaldados de frutas e de flores maravilhosas,
E todas as flores eram minhas.

Ah! sonho demasiado brilhante para durar!
Ah! esperança estrelada que só te erguias
Para seres obscurecida!
Uma voz vinda do futuro ri
"Para diante!" mas sobre o passado
(Abismo profundo) o meu espírito paira
Mudo, imóvel, consternado.

Porque ai de mim! ai de mim! para mim
A luz da vida acabou.
"Nunca mais, nunca mais, nunca mais"
(Uma tal linguagem prende o mar solene
Às areias da margem)
Não florirá árvore devastada pelo raio
Ou não levantará voo a águia atingida.

Agora todas as minhas horas são êxtase
E todos os meus sonhos de noite
Estão ali onde fita o olhar sombrio,
E onde o pé brilha
Nestas danças etéreas
Nas margens destes rios italianos.

Ai de mim! neste tempo maldito,
Transportaram-te sobre a vaga
Longe do amor para a velhice honorífica e o crime
E uma travesseira sacrílega
Longe de mim, e longe do nosso clima brumoso
Onde chora o salgueiro de prata.

Edgar Allan Poe
O Encontro
A queda da casa de Ulster e outras histórias
Tradução de João Costa
Livros Unibolso

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Instituto Franco-Português


CICLO « VIVRE ENSEMBLE !»


O IFP propõe, para começar o ano, o ciclo « Vivre ensemble ! »: uma selecção de cinco filmes recentes de realizadores com um olhar sobre o tema da integração hoje em França, em toda a sua diversidade … entrada gratuita.


Segunda feira dia 07/01/08 às 21h00: « Zim and Co »

de pierre Jolivet (2005), duracão : 1h26

Com : Adrien Jolivet, Mhamed Arezki, Yannick Nasso, Naidra Ayadi, Vincent Grass, Pierre Jolivet, Nathalie Richard.

Após um banal acidente de scooter, Zim, 20 anos, tem de encontrar um emprego fixo para evitar a prisão. Ele precipita-se sobre os anúncios mas, para o único emprego que consegue, precisa de, no prazo de dez dias, ter um carro... e a carta de condução ! Claro, que não tem nem um, nem outra. Felizmente, Zim tem esquemas e sobretudo amigos. Para o safar da prisão, eles estão dispostos a tudo... ou quase !


« Desemprego dos jovens, racismo, sexismo, vida de bairro nos arredores de Paris, famílias monoparentais, controlos de policia e engrenagem fatal pela qual um indivíduo à margem, sobrevivendo de pequenos trabalhos ilegais, vai piscando o olho à ilegalidade para poder estar na norma : Pierre Jolivet filma o dia a dia evitando as armadilhas. Nem discursos, nem pessimismo, nem demagogia. O bando dos quatro embarcam-nos na sua odisseia, provocando-nos o sorriso»

Jean-Luc Douin, Le Monde


- A SEGUIR –


segunda feira dia 14/01/08 às 21h00: « Samia»

de Philippe FAUCON (2000), duracão: 1h09

- adaptado do livro «Ils disent que je suis une beurette» de Soraya Nini (Editions Fixot) -

Com : Linda Benahouda, Mohamed Chaouch, Nadia El Koutei, Kheira Oualhaci, Yamina Amri...


segunda feira dia 21/01/08 às 21h00: « Quand tu descendras du ciel »

de Eric Guirado (2001), duracão: 1h35

Com: Benoît Giros, Serge Riaboukine, Jean-François Gallotte, Anne Goesens, Valérie Moreau...


segunda feira dia 28/01/08 às 21h00: « Wesh, wesh, qu’est ce qui se passe ? »

de Rabeh Ameur Zaïmeshe (2001), duracão : 1h23

Com : Rabah Ameur-Zaïmesche, Ahmed Hammoudi, Mambi Keita, Brahim Ameur-Zaïmeche...


segunda feira dia 04/02/08 às 21h00: « Voisins, Voisines »

De Malik Chibane (2004), duracão: 1h20.

Com : Frédéric Diefenthal, Anémone, Jackie >Berroyer, Fellag, Gwendoline Hamon, Insa Sané...



Margarida Antunes da Silva

Attachée de Presse/Relations Publiques

Instituto Franco-Português

Av. Luís Bívar, 91

1050-143 Lisboa

Tel: 21 311 14 27 Fax: 21 311 14 63

margarida.silva@ifp-lisboa.com

quarta-feira, janeiro 02, 2008

#1c, Ali


#1c, Ali
Originally uploaded by odonatah

#14, Dillenia suffruticosa


#14, Dillenia suffruticosa
Originally uploaded by odonatah

Chinatown


Chinatown
Originally uploaded by onomatoh

Thom Gunn

O Domesticador e o Falcão


Eu que pensava ser tão duro,
Mas, domado pelas tuas mãos,
Não consigo ser assim veloz
Ao voar para ti e mostrar
Que quando parto, parto
Às tuas ordens.

Até voando lá no alto
Já não sou livre;
Selaste-me com o teu amor,
Cegaste-me para as outras aves...
O hábito das tuas palavras
Vendou-me.

Como antigamente, rodo,
Pairo e volteio,
Mas apenas quero a sensação,
No meu espírito possessivo,
quem captura e é capturado
Sobre o teu pulso.

Tu, que és quase ignorante,
Ensinas-me desta maneira.
Por ter apenas olhos
Para ti, receio tudo perder,
Eu que perco para conservar e escolho
O domesticador como presa.

Thom Gunn
A Destruição do Nada
Relógio d´Água
1993

Herberto Helder

PARA A MARIA MADALENA

Felizmente sabes que a pureza foi um barco de papel

na antiga lagoa da infância.

És como és e não concedes margem ao sonho.

Não há gaivotas no teu andar

realmente como quem dança mas impudico

nem podes que eu pense a escarpa sobre o mar

na tarde em que seria possível ver

todas as coisas brancas que quisesse.


Há nódoas por toda a parte mas não escondes.

Por isso valem mais teus beijos que não simulam

ser mais do que tu.

Todas as imagens que para ti encontro

são-te iguais - e isso é na verdade

o melhor do meu desejo.


Felizmente não há pétalas nem canções

nem tardes crepusculares

nem encantamentos de pianos

nem voos de aves feridas

nem barcos com uma luz dentro da noite.


E quando há ternuras à tona dos teus silêncios

não as volto como se para mim valesse só

aquilo que o passado se cansou de insónia.

Oh não! aceito essas ternuras como quem viu

a inutilidade de todo o pensamento.


Sabes sorrir. Sabes despentear-te sem me obrigar

a ver ondas ou árvores ao vento

ou cordas despedaçadas de violinos.

Sabes desnudar-te sem que eu pense nuvens

ou ondinas ou deslumbramentos de aurora.


Sabes não saber acordar em mim

um pretexto de mentira.

Felizmente nunca acendeste astros

em minhas pálpebras descidas.


- Mas quando das ruas vejo janelas iluminadas

tão longe, tão longe da ansiedade

és tu que és a jangada do naufrágio.

Herberto Helder
(Funchal, 1930)
(in «Arquipélago», Editorial Eco do Funchal, 1952)

terça-feira, janeiro 01, 2008