Apocalipse estereofónico
no aloés
de intermitências algarvias.
Que navegar ao sul
nos coágulos
da bateria,
lacres,
num verso deitado,
deleitado
em delirantes joalharias?
Perfumes simbolistas
insinuam-se,
tão fim-de-século
a opulência,
a decadência!
Perfumes simbolistas
arrastam-na
pela cintura láctea. Há um futuro sideral
À espreita
da via
selenita. Poço
de luz
onde pairam
abelhas
repartidas
entre anéis negros de corvo.
Com antenas de veludo
palpitante.
(Radares.).
Luna Levi
SO2
Guimarães Editores
1980
1 comentário:
Maria Estela Guedes
Eu já usei pseudĂłnimos, como Luna Levi, que assina o livro “SO2”, publicado na GuimarĂŁes Editores, e hoje uso nicks, tenho emails com nomes supostos, mas nada disto se relaciona com gralhas, no sentido em que falo de gralhas no discurso cientĂfico. Já poderá relacionar-se com o “efeito Pessoa” de que se ocupou Pedro de Andrade no V ColĂłquio Internacional “Discursos e Práticas AlquĂmicas” (em linha no TriploV). Nos Ăşltimos dias tenho-me sentido outra pessoa, nasci noutra zona do meu percurso intelectual, ou fui iniciada, para usar a terminologia esotĂ©rica. Por isso marquei o meu nome, e agora, sim, o antropĂłnimo está gralhado no sentido em que tenho vindo a falar de gralhas, cĂłdigos secretos e irrupção do esoterismo no discurso da ciĂŞncia.
JĂşlio Resende (Portugal)A questĂŁo dos nomes gralhados pode ter explicações várias, consoante os indivĂduos, basta pensar nos judeus, que foram obrigados a mudar de identidade, e por isso deviam odiar o novo nome e ainda mais quem a tal os forçara. Acredito que nĂŁo Ă© pelo facto de o Prof. A.M. Galopim de Carvalho, actual director do Museu Nacional de HistĂłria Natural da Universidade de Lisboa, ser conhecido quer como Galopim, com “l” simples, quer como Gallopim, com duplo “ll”, nas publicações cientĂficas, que terei de o considerar um Barbosa du Bocage com “s”, como alguns escreveram, sabendo que o naturalista fundador do Museu Bocage (secção zoolĂłgica do Museu Nacional de HistĂłria Natural de Lisboa) sempre assinara “Barboza” com “z”. As marcas, ou gralhas nos nomes prĂłprios, transmitem no caso a informação “Eu sei”.
O facto de o Prof. Gallopim se ter assumido como um dos duplos que tĂŞm sido a minha principal área de estudo nos Ăşltimos anos, e nĂŁo sĂł assumiu o duplo antropĂłnimo como outras gralhas menos Ăłbvias para os nĂŁo conhecedores da matĂ©ria sobre a qual publicou os textos, significa apenas que ele sabe que o discurso da ciĂŞncia Ă© duplo, que o duplo se exprime na lĂngua das gralhas, e que há segredos nos textos da ciĂŞncia que sĂł permitem a recepção de certo tipo de informações a quem detenha a chave do cĂłdigo. É isto o que eu tambĂ©m sei, e nĂŁo chega a ser suficiente.
JĂşlio Resende (Portugal)
NĂŁo queria maçar-vos mais, achei oportuno dar-vos esta notĂcia no quadro de um acontecimento surrealista, por a ciĂŞncia, como se nota, ser comunicação hĂbrida, por isso irmĂŁ gĂ©mea da arte, e muito em particular do surrealismo, que aliás nĂŁo se quer arte, sim vida em liberdade. Agradeço de todo o coração ao Prof. Gallopim de Carvalho o facto de ter assumido publicamente o que de resto sempre foi pĂşblico, por estar publicado, mas eu nĂŁo conhecia, e agradeço-lhe acima de tudo por essa luz ter sido acesa, nĂŁo na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, nĂŁo no Museu Nacional de HistĂłria Natural, sim no TriploV.
Obrigada pela vossa atenção, e desejo-vos Feliz Natal.
Maria Estela Guedes
Texto lido no lançamento de Atalaia Intermundos # 10-11 e 12-13, revista Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa, Instituto Rocha Cabral, Lisboa, 19 de dezembro de 2003. Maria Estela Guedes (Portugal, 1947). Escritora, autora de Herberto Helder, Poeta Obscuro, Crime no Museu de Philosophia Natural e Eco, Pedras Rolantes. Investigadora no referido Centro, todo o seu trabalho nesta área está em linha em http://triplov.com. Dirige o TriploV, sendo ainda co-directora de Atalaia Internundos. Página ilustrada com obras do artista Júlio Resende
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