sexta-feira, junho 02, 2006

Luna Levi

Apocalipse estereofónico
no aloés
de intermitências algarvias.
Que navegar ao sul
nos coágulos
da bateria,
lacres,
num verso deitado,
deleitado
em delirantes joalharias?

Perfumes simbolistas
insinuam-se,
tão fim-de-século
a opulência,
a decadência!
Perfumes simbolistas
arrastam-na
pela cintura láctea. Há um futuro sideral
À espreita
da via
selenita. Poço
de luz
onde pairam
abelhas
repartidas
entre anéis negros de corvo.
Com antenas de veludo
palpitante.
(Radares.).


Luna Levi
SO2
Guimarães Editores
1980

1 comentário:

Anónimo disse...

Maria Estela Guedes
Eu já usei pseudónimos, como Luna Levi, que assina o livro “SO2”, publicado na Guimarães Editores, e hoje uso nicks, tenho emails com nomes supostos, mas nada disto se relaciona com gralhas, no sentido em que falo de gralhas no discurso científico. Já poderá relacionar-se com o “efeito Pessoa” de que se ocupou Pedro de Andrade no V Colóquio Internacional “Discursos e Práticas Alquímicas” (em linha no TriploV). Nos últimos dias tenho-me sentido outra pessoa, nasci noutra zona do meu percurso intelectual, ou fui iniciada, para usar a terminologia esotérica. Por isso marquei o meu nome, e agora, sim, o antropónimo está gralhado no sentido em que tenho vindo a falar de gralhas, códigos secretos e irrupção do esoterismo no discurso da ciência.

Júlio Resende (Portugal)A questão dos nomes gralhados pode ter explicações várias, consoante os indivíduos, basta pensar nos judeus, que foram obrigados a mudar de identidade, e por isso deviam odiar o novo nome e ainda mais quem a tal os forçara. Acredito que não é pelo facto de o Prof. A.M. Galopim de Carvalho, actual director do Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa, ser conhecido quer como Galopim, com “l” simples, quer como Gallopim, com duplo “ll”, nas publicações científicas, que terei de o considerar um Barbosa du Bocage com “s”, como alguns escreveram, sabendo que o naturalista fundador do Museu Bocage (secção zoológica do Museu Nacional de História Natural de Lisboa) sempre assinara “Barboza” com “z”. As marcas, ou gralhas nos nomes próprios, transmitem no caso a informação “Eu sei”.

O facto de o Prof. Gallopim se ter assumido como um dos duplos que têm sido a minha principal área de estudo nos últimos anos, e não só assumiu o duplo antropónimo como outras gralhas menos óbvias para os não conhecedores da matéria sobre a qual publicou os textos, significa apenas que ele sabe que o discurso da ciência é duplo, que o duplo se exprime na língua das gralhas, e que há segredos nos textos da ciência que só permitem a recepção de certo tipo de informações a quem detenha a chave do código. É isto o que eu também sei, e não chega a ser suficiente.

JĂşlio Resende (Portugal)

Não queria maçar-vos mais, achei oportuno dar-vos esta notícia no quadro de um acontecimento surrealista, por a ciência, como se nota, ser comunicação híbrida, por isso irmã gémea da arte, e muito em particular do surrealismo, que aliás não se quer arte, sim vida em liberdade. Agradeço de todo o coração ao Prof. Gallopim de Carvalho o facto de ter assumido publicamente o que de resto sempre foi público, por estar publicado, mas eu não conhecia, e agradeço-lhe acima de tudo por essa luz ter sido acesa, não na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, não no Museu Nacional de História Natural, sim no TriploV.

Obrigada pela vossa atenção, e desejo-vos Feliz Natal.

Maria Estela Guedes

Texto lido no lançamento de Atalaia Intermundos # 10-11 e 12-13, revista Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa, Instituto Rocha Cabral, Lisboa, 19 de dezembro de 2003. Maria Estela Guedes (Portugal, 1947). Escritora, autora de Herberto Helder, Poeta Obscuro, Crime no Museu de Philosophia Natural e Eco, Pedras Rolantes. Investigadora no referido Centro, todo o seu trabalho nesta área está em linha em http://triplov.com. Dirige o TriploV, sendo ainda co-directora de Atalaia Internundos. Página ilustrada com obras do artista Júlio Resende