domingo, junho 18, 2006

António José Forte


Desenho de Aldina


ASSINATURA


Entre lágrimas de crocodilo
o homem com gestos de lava
que aponta o local do crime
todas as manhãs
e eu despido de rosas
subo a escada de caracol da morte
para ir deixar na tua pele a assinatura bárbara
com a caligrafia trémula todas as manhãs
e todas as noites de terror
entre a música dos astros

António José Forte
Uma Faca nos Dentes
Prefácio de Herberto Helder
Parceria A.M. Pereira
Livraria Editora, Lda.



ODE


Como um girassol a ideia
letra a letra nos dentes do poeta
e ziguezaguear cintilante
até ao fim do mundo dos meus olhos
onde o teu nome canta ó rosácea dos cegos
voz do suicida no túnel nos ouvidos.
Como um icebergue devagar florindo
no horizonte trémulo de púrpura
e peixes doidos de ouro
nas mãos dos assassinos nus
à hora do abismo
ó bússola dos ébrios puta dos impotentes
Flor desfolhada no Evereste
bem-me-quer malmequer alucinado
no labirinto ardente das insónias
ó rosa das horas brancas
asa secreta contra o peito
muito alto no avião da morte
Lâmpada negra suspensa no deserto
uivante entre as pupilas e alta
até à via láctea surreal
agora e na hora dos massacres
cidade ou estrela ó baleia branca
no mar de navios sem capitães
Rosto para sempre adolescente
no relógio das horas violentas
na câmara escura
onde o meu nome deve ser lido aos gritos
cantando na garganta dos lobos
ó furor anel de versos doidos
Porta na memória das sereias
para o mistério de ilhas encantadas
no princípio do mundo
aberta como quem abre os pulsos
ou empurrada pelas lágrimas
pela pólvora ó ranger de dentes podres
Única sem céu e sem inferno
sem fim nos olhos dos amantes
na noite sem fim
de mãos entrelaçada
só fatal maravilhosamente
como um icebergue como um girassol


António José Forte
Uma Faca nos Dentes
Prefácio de Herberto Helder
Parceria A.M. Pereira
Livraria Editora, Lda

3 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado Fernanda! Um abraço f
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António José Forte
António José Forte nasceu em Póvoa de Santa Iria no dia 6 de Fevereiro de 1931. Ligado ao movimento surrealista, integrou o chamado grupo do Café Gelo. Foi funcionário da Fundação Calouste Gulbenkian, onde, durante mais de 20 anos desempenhou as funções de Encarregado das Bibliotecas Itinerantes. Representado em inúmeras antologias poéticas, António José Forte é também autor do livro de poesia infanto-juvenil Uma rosa na tromba de um elefante. Com colaboração na revista Pirâmide e em vários jornais (A Rabeca, Notícias de Chaves, O Templário, Diário de Lisboa, A Batalha, JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias, publicou o seu primeiro livro, 40 Noites de Insónia de Fogo de Dentes Numa Girândola Implacável e Outros Poemas, em 1958. A sua poesia está reunida em Uma Faca nos Dentes (Parceria A. M. Pereira), com prefácio de Herberto Helder. António José Forte faleceu em Lisboa no dia 15 de Dezembro de 1988.

posted by hmbf em outro blogue

Anónimo disse...

Aldina is of Turkish origin, and its meaning is "golden." Popular among Bosnian Muslims.
......................................
Aldina é um género botânico pertencente à família Fabaceae .
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Maria Aldina da Costa Neves Forte (que assinará nas sua obras Aldina) nasceu nas Caldas da Rainha, em 1939. E é nessa mesma cidade que, nos começos da década de 50, sob a orientação de Hansi Stael, na Fábrica de Cerâmica Secla, inicia a sua carreira de artista plástica, como ceramista.
No ano lectivo de 1959/1960 matricula-se no curso de cerâmica da Escola de Artes Decorativas António Arroio, em Lisboa, onde é aluna de Querubim Lapa, de quem, mais tarde, se torna colaboradora, na Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego.
Entretanto, pinta, desenha, transgride formas e matérias, expõe(-se): a primeira exposição (colectiva) no Estoril, em 1962 e, em 1963, a conclusão do curso de cerâmica da Escola de Artes Decorativas Antónonio Arroio - Escola onde ainda hoje, e desde 1964, lecciona pintura cerâmica.
Na ESBAL, onde se matricula no curso de pintura, tem como professor de desenho Lagoa Henriques. Concluído o curso, apresenta e defende, com Querubim Lapa, em 1979, uma tese de licenciatura sobre o chamado Grupo do Café Gelo.
"Uma pintura com biografia"- assim definiu Dourdil, o pintor, a obra plástica de Aldina. E José Cardoso Pires: "O que surpreende em Aldina é o tom, que é bem nosso, português; a fractura compulsiva que representam os seus quadros e a realidade em desequilibrio que parecem insinuar. Eles são, cada qual, um pequeno todo suspenso no acaso, no nada (brancos e tela nua onde paira um agrupamento cerrado de formas) e é nessa suspensão irracional que vivem pobres e comprometidos fragmentos de objectos, de máquinas, sinais do homem que ela nos apresenta e que estão todos eles em desunião mas profundamente agarrados uns aos outros pelo desespero e pelo furor de viver".
"O mundo pintado como um sonho preciso" lhe chamou Ernesto Sampaio. E mais :"Aldina, uma pintora excelente, na qual não sabemos que mais admirar: se a forma e a facilidade do traço, se a naturalidade para captar e inventar formas, se o modo como ferreamente as estrutura.(…)
"Nestes quadros, o mais impressionante talvez seja a luminosidade que contêm, espécie de excitação cromática que torna as coisas fosforescentes.(…) A arte de Aldina revela-se em registos insuspeitados, sem nunca abandonar a direcção clara do seu processo…é assim que esta pintura se aproxima da poesia."
Com colaboração plástica em "&etc-Magazine das Artes, das Letras e do Espectáculo", "Diário de Lisboa" e revista "Abril em Maio", desenhos e pinturas de Aldina integram o "corpus" ou são capas dos seguintes livros: "Jogos de Azar" de José Cardoso Pires, 2ª edição, Ulisseia, Lisboa, 1966, "O Servo de Deus e A Casa Roubada" de Aquilino Ribeiro, Ed. especial da Bertrand, Lisboa, 1967, "Coisas"
(volume colectivo) Ed, &etc, Lisboa, 1974, "Uma Faca nos Dentes" (Prefácio de Herberto Helder), de António José Forte, &etc, Lisboa, 1983, "Dia a Dia Amante, "Caligrafia Ardente" e "Corpo de Ninguém" d António José Forte, Hiena Editora, Lisboa, 1986, 1987 e 1989, respectivamente, "Anunciada Embarcação na Histeria" de Sofia Crespo, Ed. &etc, Lisboa, 1997, "Cadeias de Transmissão" de Fátima Maldonado, Ed.Frenesi, Lisboa, 1988, e, agora, "Uma Rosa na Tromba de um Elefante" reeditado pela Parceria A.M.Pereira, Lisboa, 2001.
Referência especial merecem as colaborações de Aldina no catálogo e exposição que acompanharam a encenação e representação do texto "Comunidade" de Luiz Pacheco (encenação de José Carretas, representação de Cândido Ferreira), no Teatro da Cornucópia e, posteriomente, no Ritz Clube, em Lisboa, Junho de 1988, bem como no espectáculo "Com uma Faca nos Dentes", com guião de Vergílio Martinho, a partir da poesia de António José Forte, pela Companhia de Teatro de Almada, em 1989, e encenação de Joaquim Benite.
Aldina está representada no Museu de Arte Contemporânea e em diversas colecções particulares nacionais e estrangeiras. Esteve ainda representada, com escultura sobre cobre, na Galeria Interior, do Arq. Conceição Silva.

Anónimo disse...

o antóni forte era m passaro qe m dia aparece á Alina no parapeito da janela da clnicz onde fazia a cra de sono , ela recomeçou a pintar e até hoje contina a decobrir o ssonho,