sexta-feira, junho 02, 2006

Luís Serrano

PAÍS

País de líquenes
e musgos confundidos
país de pedra
de paredes nuas
e solitárias raízes

país de mar aberto
e rostos de cinza
de cabras dispersas
ruminando a rocha dura
tal um mapa de bolor
e névoa

país de sobreiros
ou espectros descascados
na planura
de sons puros e sol
vertical

país de água
e pássaros e pessoas
que partem e chegam
no comboio da lua

país emigrado
com suas velas
marítimos esqueletos pousados
na memória recente

país de gente
(já perdido o céu)
de nervos desatados e ossos
viajando no convés

país epiderme apenas
por dentro da noite
o sonho semeando
de coisa nenhuma

país de pinheiros
acordados sobre as dunas
uma tão remota
frustração de barcos

país parado na berma da agonia
em ti morre o sonho
se apaga a noite

se consome o dia
em ti submerso e tenso
um povo (ou um incêndio)
a si próprio se ilumina.


Julho, 1979
Luís Serrano
Poemas do Tempo Incerto
Cancioneiro
VÉRTICE
Coimbra 1983
(com desenhos de José Rodrigues)

3 comentários:

Anónimo disse...

Luís Serrano nasceu em Évora em 1938. Licenciado em Ciências Geológicas (UC), foi investigador da Universidade de Aveiro de 1975 a 2001. Foi um dos fundadores da Revista de Poesia Êxodo (1961). Tem colaboração dispersa em diversas páginas literárias e nas revistas Vértice e Letras e Letras. Está também representado em várias antologias. Publicou Poemas do Tempo Incerto (Vértice, 1983), Entre Sono e Abandono (Estante Editora, 1990), As Casas Pressentidas (edição de autor, 1999 uma das obras premiadas com o Prémio Nacional Guerra Junqueiro) e Nas Colinas do Esquecimento (Campo das Letras, 2004)

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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