sexta-feira, setembro 01, 2006

Döbrentei Kornél

GANCHO DE FERRO


Nuvem cavalgando borboleta sombria
é a minha pátria, onde no meu
coração domesticado roda moinho
silencioso do sonho, em haste de trigo
meu avô galopa céus fora e,
triturado, em grandes flocos, cai.
Lá em baixo, labirinto de ossos
é minha mãe,
de quem construo um Principezinho
ao redor do tempo, enquanto corre
por cima de mim o prado de passos longos,
onde a criança desembrulha
borboleta aberta na lagarta.

Recolhe-se com estalido a rosa
atrás de mim, e incendeia-se a raposa
nas janelas do céu; acolá, pende
um terrível gancho de ferro, minha
cabeça roubada na sua ponta.
Só se ouve o frio, enquanto não
cresce, à volta do meu crânio, da minha
respiração tece teia de aranha.


Döbrentei Kornél
1946
Antologia de Poesia Húngara
Selecção e tradução de Ernesto Rodrigues
Âncora Editora

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