sábado, julho 08, 2006

Evangelho de Judas

Visão de Judas da grande casa

Judas disse: “Mestre,
da maneira como escutaste a todos,
escuta-me, agora, a mim, pois tive
uma grande visão (horoma)”, Jesus,
ao ouvi-lo, riu-se e
disse-lhe: “Por que te esforças (gymnazein)
tanto, tu, espírito décimo terceiro?
Fala, pois, que eu te escuto”,
E disse Judas:”Vi-me a mim próprio na visão
em que os doze discípulos
me apedrejavam....


...”Fui para outra geração grande
e santa”. E disseram-lhe
os seus discípulos:
“Senhor, qual é a geração grande
e santa que nos supera
e que não está neste éon?”. Então,
Jesus quando escutou isto,
riu-se e disse-lhes:”Por que pensais no vosso
coração sobre a geração
poderosa e santa? Em verdade vos digo
que ninguém deste éon
verá aquela [geração]...


Conversa com os discípulos

Eis que um dia na Judeia
se dirigia aos seus discípulos
e encontrou-os sentados
e reunidos praticando (gymnazô)
a piedade. Quando
se encontrou com os seus discípulos
reunidos e sentados celebrando
a eucaristia (eucharistia) sobre o pão, ele riu-se.
Então, os discípulos disseram-lhe:
“Mestre, por que te ris da
eucaristia? O que fazemos
está bem”. Ele respondeu-lhes,
dizendo: “Não me rio de vós.
Mas vós não fazeis isto
por vossa vontade, mas sim porque
nisto o vosso Deus é louvado”.
 

Evangelho de Judas
Tradução de Luís Filipe Sarmento
Revisão científica e tradução de António de Macedo
Ésquilo

1 comentário:

Anónimo disse...

O Evangelho de Judas é um evangelho apócrifo, atribuído a autores gnósticos nos meados do século II, composto de 26 páginas de papiro escrito em copta dialectal que revela as relações de Judas com Jesus Cristo sob uma outra perspectiva: Judas não teria traído Jesus, e sim, atendido a um pedido deste ao denunciá-lo aos romanos.

Desaparecido por quase 1700 anos, a única cópia conhecida do documento foi publicada em 6 de abril de 2006 pela revista National Geographic. O manuscrito, autentificado como datando do século III ou IV, é uma cópia de uma versão mais antiga redigida em grego. Contrariamente à versão dos quatro Evangelhos oficiais, este texto clama que Judas era o discípulo mais fiel a Jesus, e aquele que mais compreendia os seus ensinamentos. O seu conteúdo consiste basicamente em ensinamentos de Jesus para Judas, apresentando informações sobre uma estrutura hierárquica de seres angelicais e uma outra versão para a criação do universo.

A Descoberta

O documento, com bordas em couro, foi descoberto nos anos 1970 no deserto egípcio, perto de El Minya. Ele circulou em seguida entre os comerciantes de antigüidades para se encontrar primeiro na Europa e depois nos Estados Unidos, onde permaneceu em um cofre de um banco em Long Island (Nova York) durante 16 anos, antes de ser comprado em 2000 pela antiquária grega Frieda Nussberger-Tchacos.
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A Restauração e Tradução

Inquieta com a deterioração do manuscrito, Frieda confiou-o à fundação suíça Maecenas em fevereiro de 2001, a fim de preservá-lo e traduzi-lo. Após a restauração do documento, o trabalho de análise e tradução foi confiado a uma equipe de coptólogos dirigida pelo professor Rodolphe Kasser, especialista em manuscritos da Universidade de Genebra. Kasser disse jamais ter visto um manuscrito em um estado tão ruim: páginas faltavam, o topo das páginas, onde ficavam os números, estava rasgado, e havia quase mil fragmentos de papiro. Para reconstituir, segundo ele, o "quebra-cabeças mais complexo jamais criado pela história", o professor Kasser foi auxiliado pela restauradora de papiros Florence Darbre e pelo especialista em copta dialectal Gregor Wurst, da Universidade de Augsburg (Alemanha). O documento, chamado "Codex de Tchacos", será devolvido ao Egito e conservado no museu copta do Cairo.

Mario Jean Roberty, director da Fundação Maecenas com sede na Basiléia, garante que com os resultados dos testes realizados no documento pode-se afirmar, sem dar margem a dúvidas, que o texto foi transcrito entre o século III e o século IV.
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Tu sacrificarás o homem que me revestiu
O Beijo de Judas por Giotto di Bondone. Segundo o Evangelho de Judas o beijo não foi uma traição.
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O Beijo de Judas por Giotto di Bondone. Segundo o Evangelho de Judas o beijo não foi uma traição.

O trecho-chave do documento é atribuído a Jesus, dizendo a Judas: "Tu vais ultrapassar todos. Tu sacrificarás o homem que me revestiu". Segundo o pensamento gnóstico, esta frase significaria que com a deleção Judas estaria contribuindo para que Jesus Cristo pudesse libertar o seu espírito, livrando-se de seu invólucro carnal, o corpo.

"Essa descoberta espectacular de um texto antigo, não-bíblico, considerada por alguns especialistas como um dos mais importantes jamais descobertos nos últimos 60 anos, estende nosso conhecimento da história e das diferentes opiniões teológicas do início da era cristã", esclarece Terry Garcia, um dos responsáveis da revista estado-unidense National Geographic. Presume-se que o original, provavelmente escrito em grego, seja datado do início do século II.

A existência do Evangelho de Judas havia sido atestada pelo primeiro bispo de Lyon, São Irineu, que o denunciou em um texto contra as heresias na metade do século II. O bispo teria explicado neste documento que, segundo a sua opinião, nos tempos dos Apostolos aconteceram diversas tentativas de se expalhar o erro e pertubar a união dos cristãos, e que alguns faziam-se passar por convertidos, exclusivamente para dissiminar doutrinas contrárias a da Fé Apóstolica.

Irineu também comentou a existência de uma seita gnóstica chamada de Cainitas, cuja crenca era baseada no princípio que o mundo material é imperfeito, tendo sido criado não por um Deus Supremo e sim por uma inteligência criadora inferior a este. Além de Irineu, Epifânio, bispo de Salamina, também argumentou sobre a existência desse manuscrito no ano de 375 dc.

Elaine Pagels, professora de ReligiĂŁo na Universidade de Princeton e uma das grandes especialistas mundiais sobre os Evangelhos gnĂłsticos, considera que "a descoberta surpreendente do Evangelho de Judas, bem como daqueles de Maria Madalena e de diversos outros documentos dissimulados durante quase 2000 anos, modifica nossa compreensĂŁo dos primĂłrdios do cristianismo. Essas descobertas erradicam o mito de uma religiĂŁo monolĂ­tica e mostram o quanto o movimento cristĂŁo era realmente diversificado e fascinante no seu inĂ­cio".