terça-feira, dezembro 12, 2006

Eugénio Lisboa

HIPÓTESE - I (O INVERNO NUCLEAR)

Brisas

Brandas, as brisas alisam
aquilo que não é vida:
sossegam, calmas, deslizam,
na fria terra despida.
Solenes brisas avisam
quem já ouvi-las não sabe:
nas brisas que nada pisam
fulgor de vida não cabe.

Eugénio Lisboa
o Ilimitável Oceano
quasi

1 comentário:

Anónimo disse...

EUGÉNIO LISBOA
[Lourenço Marques (hoje Maputo)/Moçambique, 1930]


Ensaísta e crítico literário. Nascido em Lourenço Marques, onde viveu até 1976, formou-se (1953) em Engenharia Electrotécnica, pelo Instituto Superior Técnico, de Lisboa. É doutor honoris causa, em Letras, pela Universidade de Nottingham, Reino Unido (1988). Já depois da independência de Moçambique, foi colocado em Paris, na Compagnie Française des Pétroles, como adjunto do director mundial de exploração (1976). O ramo petrolífero foi a sua especialidade profissional durante vinte anos (1958-78). Mas, entre 1974-78, acumulou essa actividade com a docência, que exerceu nas Universidades de Lourenço Marques, Pretória (1974-75) e Estocolmo (1977-78), onde regeu cursos de Literatura Portuguesa. Na Suécia foi também o coordenador do ensino da língua portuguesa. Exerceu, durante dezassete anos consecutivos (1978-95), o cargo de conselheiro cultural junto da Embaixada de Portugal em Londres. Durante esse lapso de tempo propiciou a tradução e edição, no Reino Unido, de alguns clássicos da nossa literatura. Por força da sua formação académica e das obrigações do serviço militar, viveu em Lisboa entre 1947-55. Data desses anos a sua lendária amizade com José Régio, que o convidou a organizar um volume antológico da sua poesia, José Régio: Antologia, Nota Bibliográfica e Estudo (1957). Esse volume, e em particular o Estudo nele inserido, será o primeiro sinal público de uma exigente e continuada atenção à obra regiana. Depois do regresso a Moçambique, foi uma figura destacada e interveniente da vida cultural laurentina, tendo co-dirigido, com Rui Knopfli, suplementos literários de jornais desafectos ao regime, casos de A Tribuna e A Voz de Moçambique. Participou na recolha do espólio de Reinaldo Ferreira, sendo autor do estudo introdutório à 1ª edição dos Poemas (i.e. o posfácio das edições portuguesas). Para o Rádio Clube de Moçambique elaborou programas de teatro radiofónico, a partir de textos de Racine, Ibsen, Régio e Montherlant. Espírito atento e sulfuroso, autor de um ensaísmo informado que não abdica da clareza e do fair play, Eugénio Lisboa tem sido, ao arrepio de modas e conveniências de vária ordem, um leitor empenhado e provocante de autores pouco amáveis (Henry de Montherlant, Régio, Reinaldo Ferreira, Sena, Rui Knopfli, para citar apenas os casos de dedicação "militante"). Foi também, nos anos 60 e 70, um desassombrado crítico da visão oficiosa das "literaturas africanas de expressão portuguesa". A generalidade dos ensaios que escreveu e publicou em Moçambique foram coligidos nos dois volumes de Crónica dos Anos da Peste (1973 e 1975; tomo único desde 1996). A par da sua actividade ensaística, Eugénio Lisboa é autor de um livro de poesia, A Matéria Intensa (1985). A pretexto desse livro, David Mourão-Ferreira fez notar os "inesperados acentos lúdicos" de uma voz "a um tempo áspera e calorosa, austera e fremente". Colaboração de vária índole encontra-se dispersa, desde os anos 50, por jornais e revistas de Moçambique - além dos já citados, Notícias, Diário, Notícias da Beira, Diário de Moçambique, Objectiva, Paralelo 20 - e de Portugal, tais como o Diário Popular, A Capital, JL, O Tempo e o Modo, Colóquio-Letras, Prelo, Nova Renascença, Oceanos, Ler, etc. Dirigiu, para o Círculo de Leitores, a colecção das Obras Escolhidas de José Régio. Escritor e diplomata, membro da Associação Internacional dos Críticos Literários, oficial da Ordem do Infante D. Henrique, tenente da Royal Victorian Order (Grã-Bretanha), presidiu à Comissão Nacional da UNESCO entre 1996 e 1998. Exerce actividade docente na Universidade de Aveiro. Foi o coordenador dos três primeiros volumes do presente Dicionário (1985-94). Usou os pseudónimos Armando Vieira de Sá, John Land e Lapiro da Fonseca.

in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. V, Lisboa, 1998