HIPÓTESE - I (O INVERNO NUCLEAR)
Brisas
Brandas, as brisas alisam
aquilo que não é vida:
sossegam, calmas, deslizam,
na fria terra despida.
Solenes brisas avisam
quem já ouvi-las não sabe:
nas brisas que nada pisam
fulgor de vida não cabe.
Eugénio Lisboa
o Ilimitável Oceano
quasi
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EUGÉNIO LISBOA
[Lourenço Marques (hoje Maputo)/Moçambique, 1930]
EnsaĂsta e crĂtico literário. Nascido em Lourenço Marques, onde viveu atĂ© 1976, formou-se (1953) em Engenharia ElectrotĂ©cnica, pelo Instituto Superior TĂ©cnico, de Lisboa. É doutor honoris causa, em Letras, pela Universidade de Nottingham, Reino Unido (1988). Já depois da independĂŞncia de Moçambique, foi colocado em Paris, na Compagnie Française des PĂ©troles, como adjunto do director mundial de exploração (1976). O ramo petrolĂfero foi a sua especialidade profissional durante vinte anos (1958-78). Mas, entre 1974-78, acumulou essa actividade com a docĂŞncia, que exerceu nas Universidades de Lourenço Marques, PretĂłria (1974-75) e Estocolmo (1977-78), onde regeu cursos de Literatura Portuguesa. Na SuĂ©cia foi tambĂ©m o coordenador do ensino da lĂngua portuguesa. Exerceu, durante dezassete anos consecutivos (1978-95), o cargo de conselheiro cultural junto da Embaixada de Portugal em Londres. Durante esse lapso de tempo propiciou a tradução e edição, no Reino Unido, de alguns clássicos da nossa literatura. Por força da sua formação acadĂ©mica e das obrigações do serviço militar, viveu em Lisboa entre 1947-55. Data desses anos a sua lendária amizade com JosĂ© RĂ©gio, que o convidou a organizar um volume antolĂłgico da sua poesia, JosĂ© RĂ©gio: Antologia, Nota Bibliográfica e Estudo (1957). Esse volume, e em particular o Estudo nele inserido, será o primeiro sinal pĂşblico de uma exigente e continuada atenção Ă obra regiana. Depois do regresso a Moçambique, foi uma figura destacada e interveniente da vida cultural laurentina, tendo co-dirigido, com Rui Knopfli, suplementos literários de jornais desafectos ao regime, casos de A Tribuna e A Voz de Moçambique. Participou na recolha do espĂłlio de Reinaldo Ferreira, sendo autor do estudo introdutĂłrio Ă 1ÂŞ edição dos Poemas (i.e. o posfácio das edições portuguesas). Para o Rádio Clube de Moçambique elaborou programas de teatro radiofĂłnico, a partir de textos de Racine, Ibsen, RĂ©gio e Montherlant. EspĂrito atento e sulfuroso, autor de um ensaĂsmo informado que nĂŁo abdica da clareza e do fair play, EugĂ©nio Lisboa tem sido, ao arrepio de modas e conveniĂŞncias de vária ordem, um leitor empenhado e provocante de autores pouco amáveis (Henry de Montherlant, RĂ©gio, Reinaldo Ferreira, Sena, Rui Knopfli, para citar apenas os casos de dedicação "militante"). Foi tambĂ©m, nos anos 60 e 70, um desassombrado crĂtico da visĂŁo oficiosa das "literaturas africanas de expressĂŁo portuguesa". A generalidade dos ensaios que escreveu e publicou em Moçambique foram coligidos nos dois volumes de CrĂłnica dos Anos da Peste (1973 e 1975; tomo Ăşnico desde 1996). A par da sua actividade ensaĂstica, EugĂ©nio Lisboa Ă© autor de um livro de poesia, A MatĂ©ria Intensa (1985). A pretexto desse livro, David MourĂŁo-Ferreira fez notar os "inesperados acentos lĂşdicos" de uma voz "a um tempo áspera e calorosa, austera e fremente". Colaboração de vária Ăndole encontra-se dispersa, desde os anos 50, por jornais e revistas de Moçambique - alĂ©m dos já citados, NotĂcias, Diário, NotĂcias da Beira, Diário de Moçambique, Objectiva, Paralelo 20 - e de Portugal, tais como o Diário Popular, A Capital, JL, O Tempo e o Modo, ColĂłquio-Letras, Prelo, Nova Renascença, Oceanos, Ler, etc. Dirigiu, para o CĂrculo de Leitores, a colecção das Obras Escolhidas de JosĂ© RĂ©gio. Escritor e diplomata, membro da Associação Internacional dos CrĂticos Literários, oficial da Ordem do Infante D. Henrique, tenente da Royal Victorian Order (GrĂŁ-Bretanha), presidiu Ă ComissĂŁo Nacional da UNESCO entre 1996 e 1998. Exerce actividade docente na Universidade de Aveiro. Foi o coordenador dos trĂŞs primeiros volumes do presente Dicionário (1985-94). Usou os pseudĂłnimos Armando Vieira de Sá, John Land e Lapiro da Fonseca.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. V, Lisboa, 1998
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