segunda-feira, maio 07, 2007

Poesias

Melancólico até ao osso

Alguém me visita. Uma sombra. O som de um ramo de árvo-
re batendo na superfície vidrada do insólito. Estou só. A ami-
zade é uma dança ou um poço. Escuto a sua voz, embriago-
-me no tecido da percepção pretérita. Sonho-me à mesa do
que fui. Lábios tocam a minha face. Abro uma caixa cuja
transparência é um engano, um embuste. Dentro dela um ani-
mal feroz, couraçado para a inquietude da morte que virá.
Sou um animal desenhado a tinta-da-china na tela do logro.
Um animal de partes, um padrão de movimentos. Um animal
melancólico até ao osso.
Gosto das descrições que me elegem provisório e que se subs-
tituirão à minha presença de homem perigosamente inocente.

Luís Quintais
CANTO ONDE
Livros Cotovia

Permaneces trancado
No interior de um segredo
Implorando por dedos
Que silenciosa e docemente
Fossem abrindo
As corolas dos crisântemos

Uma criança olha-te de muito longe.

Luís Falcão
PÉTALAS NEGRAS ARDEM NOS TEUS OLHOS
Assírio & Alvim

Tudo
seria simples, tudo
seria fácil se ao cavalo
não tivessem
cortado as asas
em pleno voo, não tivessem
cortado a água
à roda
do moinho.

Albano Martins
Palinódias,
palimpsetos
Campo das Letras

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