sábado, maio 19, 2007

Gillo Dorfles

Capítulo VI

O «DESVIO» NA ESTÉTICA CONTEMPORÂNEA I.

Necessidade de um desvio Como procurei explicar no fim do capítulo precedente sente-se frequentemente nos nossos dias uma evidente necessidade de chegar a uma brusca interrupção no caso de certas situações já cristalizadas e que, apenas por uma mudança de rumo, poderiam adquirir novos impulsos e novo vigor . Perante o deslizar de muitas formas artísticas contemporâneas para o medíocre, o repetitivo, o revivalístico (estes dois adjectivos indicam bem uma condição hoje claramente reconhe- cida nos sectores mais diversos: de certa música de consumo, e não se pense isso apenas para a de Philip Glas, até a muitas operações pictóricas) existe, apesar de tudo, um desejo, e até urna necessidade, de produção artística que acabe por englobar outros sectores habitualmente descurados pelos «especialistas da arte». Trata-se de todo o imenso acervo de operações cromáticas, acústicas, plásticas, que circundam o indivíduo na sua existência quotidiana, que passam a fazer parte do panorama urbano, da publicidade, do vestuário, da signalética das estra- das, etc. e que não podem deixar de ser consideradas como «estéticas».

Gillo Dorfles
Elogio da Desarmonia
Tradução de Maria Ivone Cordeiro
Edições 70 1986 Pág. 87

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