Solidão (Melancolia), 1912
O Poeta e a Sua Musa, 1925Nas Praias da Tessália, 1926
Partida do Argonauta
“E o que hei-de amar senão o enigma?”, escreveu Giorgio de Chirico em latim porbaixo do seu primeiro auto-retrato de 1911 (il. p.10). O pintor retrata-se de perfil,a cabeça descansando na mão esquerda, na pose clássica do melancólico. O olho, embora aberto, não tem a pupila reconhecível. O plano de fundo é constituído por um céu sem nuvens de um verde-frio e onde não corre uma brisa. O auto-retrato surgiu no início da fase da Pittura Metafisica - “Pintura Metafísica” - que tornaria De Chirico famoso. A trabalhar em Itália por volta de 1910, o artista começou a formular uma nova linguagem poética posteriormente designada por “metafísica”. As correntes de arte do século 20, como o Surrealismo e a Neue Sachlichkeit ( “NovaObjectividade” ), seriam decisivamente influenciadas pela pintura de De Chirico, que não se baseava predominantemente na inovação formal, mas sim numa nova forma de ver os objectos e de perseguir o seu significado escondido.
De Chirico proclama de forma programática, no seu auto-retrato, que o enigma é o estímulo e objectivo da sua pesquisa artística. “Temos de pintar todos os fenómenos do mundo como um enigma”, escreveu ele em 1913. É esta singularidade misteriosa das coisas que, nos quadros de De Chirico, tão imediatamente nos surpreende,com o seu estado de espírito de profunda solidão e melancolia. O mundo com que nos confrontamos nas obras deste mestre italiano é um mundo de sombra e ilusão, de céus frios e verdes, de espaços sem vento e perspectivas absurdas. Nos seus quadros, os objectos deixam de ser inequívocos. De Chirico pinta objectos reconhecíveis, mas combina-os de tal forma que as coisas nossas conhecidas e quotidianas - uma rapariga com um arco, uma carruagemaberta, um comboio, uma luva, uma torre - se tornam objectos sem aparente sentido: estranhos, fechados sobre si próprios. Num texto antigo, escreveu: “Para se tornar verdadeiramente imortal, uma obra de arte tem de escapar a todos os limites humanos: a lógica e o senso comum só causam interferências. Mas uma vez quebradas estas barreiras, entrará nas zonas da visão e do sonho de infância.” De Chirico foi o primeiro artista da era moderna a reconhecer e traduzir a ambiguidade do mundo visível. Com a sua Pittura Metafisica criou aquilo que o escritor surrealista André Breton chamaria mais tarde o “mito moderno”: retratos de uma nova melancolia que deram expressão pictórica à perda de sentido e ao sentimento de alienação experimentados pelo homem moderno.
A poética da pintura metafísica foi alimentada por um complexo entrançado de memórias pessoais e colectivas, estímulos associativos e racionais, inspiração- De Chirico fala de “revelação” - e de leitura intensa de filosofia. De Chirico foi sobretudo influenciado pelos escritos de Friedrich Nietzsche: a pose que ele adopta no auto-retrato de 1911 (il. p.l0) é uma alusão directa ao retrato fotográfico do próprio Nietzsche (il. p.lI). De Chirico via Nietzsche não apenas como uma luz-guia mas também como figura identificadora: sentia que ambos partilhavam uma natureza semelhante e que estavam ligados pelo destino - afinal foi em 1888, o ano do nascimento de De Chirico, que a carreira de Nietzsche atingiu o ponto de não retorno em Turim, antes de sofrer um colapso na rua, nos primeiros dias de Janeiro de 1889 e perder a sanidade mental para sempre. Com Nietzsche, De Chirico não só partilhava o amor pelo enigma mas também o fascínio pelo mundo da mitologia clássica.
Tanto a citação em latim por debaixo do seu auto-retrato programático, como o olho desprovido de pupila aludem ao vidente cego da Antiguidade Clássica. Encontraremos, muitas e muitas vezes, a noção de cegueira exterior na obra de De Chirico. Cego para o presente,o olhar não se fixa numa forma extrínseca, vê o íntimo ou a forma futura das coisas. O artista metafísico assume, assim, uma capacidade profética para voltar o olhar para o aspecto desconhecido das coisas............................................................................
DE CHIRICO
De Chirico proclama de forma programática, no seu auto-retrato, que o enigma é o estímulo e objectivo da sua pesquisa artística. “Temos de pintar todos os fenómenos do mundo como um enigma”, escreveu ele em 1913. É esta singularidade misteriosa das coisas que, nos quadros de De Chirico, tão imediatamente nos surpreende,com o seu estado de espírito de profunda solidão e melancolia. O mundo com que nos confrontamos nas obras deste mestre italiano é um mundo de sombra e ilusão, de céus frios e verdes, de espaços sem vento e perspectivas absurdas. Nos seus quadros, os objectos deixam de ser inequívocos. De Chirico pinta objectos reconhecíveis, mas combina-os de tal forma que as coisas nossas conhecidas e quotidianas - uma rapariga com um arco, uma carruagemaberta, um comboio, uma luva, uma torre - se tornam objectos sem aparente sentido: estranhos, fechados sobre si próprios. Num texto antigo, escreveu: “Para se tornar verdadeiramente imortal, uma obra de arte tem de escapar a todos os limites humanos: a lógica e o senso comum só causam interferências. Mas uma vez quebradas estas barreiras, entrará nas zonas da visão e do sonho de infância.” De Chirico foi o primeiro artista da era moderna a reconhecer e traduzir a ambiguidade do mundo visível. Com a sua Pittura Metafisica criou aquilo que o escritor surrealista André Breton chamaria mais tarde o “mito moderno”: retratos de uma nova melancolia que deram expressão pictórica à perda de sentido e ao sentimento de alienação experimentados pelo homem moderno.
A poética da pintura metafísica foi alimentada por um complexo entrançado de memórias pessoais e colectivas, estímulos associativos e racionais, inspiração- De Chirico fala de “revelação” - e de leitura intensa de filosofia. De Chirico foi sobretudo influenciado pelos escritos de Friedrich Nietzsche: a pose que ele adopta no auto-retrato de 1911 (il. p.l0) é uma alusão directa ao retrato fotográfico do próprio Nietzsche (il. p.lI). De Chirico via Nietzsche não apenas como uma luz-guia mas também como figura identificadora: sentia que ambos partilhavam uma natureza semelhante e que estavam ligados pelo destino - afinal foi em 1888, o ano do nascimento de De Chirico, que a carreira de Nietzsche atingiu o ponto de não retorno em Turim, antes de sofrer um colapso na rua, nos primeiros dias de Janeiro de 1889 e perder a sanidade mental para sempre. Com Nietzsche, De Chirico não só partilhava o amor pelo enigma mas também o fascínio pelo mundo da mitologia clássica.
Tanto a citação em latim por debaixo do seu auto-retrato programático, como o olho desprovido de pupila aludem ao vidente cego da Antiguidade Clássica. Encontraremos, muitas e muitas vezes, a noção de cegueira exterior na obra de De Chirico. Cego para o presente,o olhar não se fixa numa forma extrínseca, vê o íntimo ou a forma futura das coisas. O artista metafísico assume, assim, uma capacidade profética para voltar o olhar para o aspecto desconhecido das coisas............................................................................
DE CHIRICO
Magdalena Holzey
Taschen
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