domingo, agosto 31, 2008

Vítor Nogueira

CINCO VISITAS AO PÁSSARO-DA-MORTE

ANZOL

Ao fim da tarde, o cardume desagrega-se. Inteiro,
procuro reunir os meus pedaços. É a sensatez
de não abandonar o, esconderijo, a prudência com
que a ave canora evita o pássaro-da-morte.

Porém, noites há que me rebentam nos ouvidos.
Todas as experiências, todos os bocados de papel.
Um anzol à minha espera, a cidade é paciente, não
perdoa. Tem a astúcia da ave de rapina.

Bem sei: na vida, o primeiro golpe de génio
acontece no momento em que avaliamos
as nossas limitações. Mas, por muito calculistas
que sejamos, podemos realmente conhecer-nos
quando o abrigo se torna insuportável.

Vítor Nogueira
Telhados de Vidro
N.º 3
Novembro 2004

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