quinta-feira, fevereiro 03, 2011

António Ramos Rosa

A partir de uma folha reconstruí a árvore
e tudo me foi dado porque ofereci
ao abandonado deus da inércia mineral
e de privilégio em privilégio reconheci o nada
do meu tronco original e a sua redonda substância
Baixei as pálpebras como quem entra num túmulo
e penetrei na nuvem obscura de uma secreta pupila
onde quem morre nasce e os deuses assomam
os colos degolados Entrei na selva de uma gruta
e vi as chamas e as sombras na dança dos desejos
Colhi então uma pequena folha azul no chão vermelho
e coloquei-a no ombro de uma mulher maravilhosa
E de carícia em carícia formou-se uma folhagem
e o tronco tenso da árvore no próprio corpo dela
e no meu corpo unânime solidamente vivo



António Ramos Rosa

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